Mitologia Grega: JASÃO E AS ROCHAS CIANÉIAS - DJ Blog

Mitologia Grega: JASÃO E AS ROCHAS CIANÉIAS

Publicado em sexta-feira, 30 de março de 2012




No caminho para chegar até a Cólquida, em busca do Velocino de Ouro, Jasão passou com seus demais companheiros pela costa da Bitínia. Mal prendeu as amarras e seus tripulantes já desembarcavam, felizes por pisarem em terra novamente.

—  Devagar, rapazes — disse Jasão. — Já tivemos surpresas demais nesta viagem.
A frente do grupo, Jasão avançou com os outros para dentro do continente. Mais para o interior vivia um ancião de horrível aspecto.
Seu nome era Fineu, e desde as primeiras horas do dia se mostrava extraordinariamente inquieto. Na juventude recebera de Apolo o dom de prever o futuro e já sabia, por esta razão, que chegariam naquele dia os homens que o libertariam, afinal, de seus padecimentos.
Na verdade, fora esse mesmo dom o causador de todos os seus males, pois Fineu fizera dele um péssimo uso. Sabedor de todos os desígnios que os deuses reservavam aos mortais, começara a revelá-los a qualquer um, de modo indiscriminado, atraindo finalmente a ira de Zeus.
Apolo advertira-o de sua imprudência mais de uma vez. O que mais irritara Zeus, entretanto, era a mania que Fineu tinha de revelar os oráculos de maneira absolutamente clara, ignorando a misteriosa retórica dos templos.
— É preciso mistério, Fineu! — lhe dissera Apolo, certa feita.
O que Fineu pretendia, na verdade, era criar um método simples de consultar os oráculos. Abandonando o incômodo tripé onde os adivinhos costumavam trabalhar, Fineu instalara-se numa cadeira mais confortável e começara a fazer suas revelações de maneira simples e direta.
Tal método não agradou aos deuses. Zeus, afinal, farto das indiscrições de Fineu, decidiu puni-lo, fazendo com que de um dia para o outro ele se transformasse num velho cego e decrépito. Mas isso não foi o suficiente para aplacar a ira do deus supremo. Além de torná-lo velho e cego, ele fez com que o miserável Fineu jamais pudesse comer outra vez qualquer alimento saudável. Para tanto, ordenou que as pavorosas harpias — seres alados que corrompem todo o alimento que tocam — estivessem ao seu lado, toda vez que ele fizesse uma refeição.
Assim, era em vão que Fineu se sentava à mesa para fazer suas refeições; quando erguia seu talher, logo surgiam acima dos ombros as imundas aves agitando as asas que cheiravam a carniça. Com as mãos envenenadas tomavam-lhe o alimento, cuspindo-lhe em cima uma baba fétida e negra.
Nesse regime forçado, o velho acabou definhando. Seu corpo reduzira-se apenas a uma fina cobertura de pele. Os ossos de suas extremidades furavam este frágil envoltório, de tal modo que se podiam ver perfeitamente os ossos de seus cotovelos saindo pela pele rasgada. Por toda a parte do corpo irrompiam pedaços de ossos, de tal sorte que parecia que se descascava, prestes a revelar o esqueleto inteiro.
Era um espetáculo verdadeiramente triste assistir à decadência física daquele pobre homem. No entanto, o desgraçado Fineu ainda não havia perdido completamente o dom de prever o futuro, e agora fazia uso dele para si próprio.
— São eles! — disse o velho, levantando-se de seu leito imundo ao sentir a chegada dos argonautas.
Apoiado ao seu cajado, Fineu arrastou seus frágeis ossos até a porta. Os visitantes espantaram-se diante daquele esqueleto humano, que mais parecia a Morte a aguardá-los. De repente, porém, surgiram dos céus novamente as harpias esvoaçantes. Com golpes de suas malcheirosas mãos, tentaram impedir que Jasão e seus homens conversassem com Fineu. Estes, contudo, sacaram suas espadas e desferiram vários golpes, expulsando-as com violência. Agradecido, o velho convidou-os a entrar.
—  Minhas predições estavam certas, afinal! — exclamou. As harpias haviam sido expulsas para sempre, conforme previra.
Depois de sentar-se à mesa, Fineu chamou Jasão, pois tinha uma importante revelação a fazer. Como se vê, o velho não perdia o hábito de profetizar.
— Logo que vocês saírem daqui, encontrarão em alto-mar dois imensos rochedos. São as Rochas Cianéias — falava Fineu, enquanto se banqueteava com fúria, livre, enfim, para comer à vontade.
—  O que têm essas rochas? — perguntou Jasão.
— São dois rochedos que flutuam no mar, à espera de que algum barco lente cruzar o seu vão — disse o velho. — Quando isso acontece, eles juntam-se inesperadamente, esmagando os imprudentes.
— Você quer dizer que isto acontecerá conosco, também?
— Bem, se isto ocorrerá ou não, não posso revelar... — disse Fineu, mais comedido em seus prognósticos, pois temia uma nova punição de Zeus. -Mas há um meio de saber quando será a melhor hora para tentarem a travessia.
—  Vamos, diga logo! — disse o herói grego, impaciente.
—  Quando estiverem próximos, larguem uma pomba; se ela conseguir realizar a travessia com facilidade, ponham toda a força nos remos e sigam adiante — disse o velho, cujos olhos cegos pareciam enxergar perfeitamente a cena. — No entanto, se a pomba perecer, desistam.
Satisfeito com as advertências, Jasão agradeceu e então partiu da ilha, juntamente com seus homens.
No mesmo dia, o Argo avançou intrepidamente pelas perigosas águas poucos foram surgindo no caminho várias rochas de pequeno e médio tamanho espalhadas ao longo do estreito. Com muita dificuldade, os remadores evitaram a colisão com esses escolhos, orientados sempre por Tífis, o experiente piloto que guiava o Argo desde o começo da expedição.
Aos poucos o horizonte foi tornando-se escuro, prenunciando a chegada da noite.
Jasão ordenou que os grandes archotes presos aos mastros fossem acesos. Os marinheiros também portavam alguns, de tal modo que parecia que o Argo tinha a voejar ao redor de si um exército de imensos vaga-lumes dourados. Assim, iluminado, o navio ia avançando e se desviando, até que, afinal, Tífis exclamou, apontando adiante:
—  Vejam, são elas, as Rochas Cianéias!
Embora ainda estivessem um pouco distantes, todos puderam divisar, iluminados pela lua cheia, dois imensos rochedos a flutuar firmemente sobre as águas revoltas.
—  E se tentássemos contorná-los? — perguntou Tífis.
—  É impossível — disse Jasão. — O desvio seria imenso. O único vão suficientemente largo para que possamos passar com nossa embarcação é aquele que há entre eles.
Jasão tinha seus olhos fitos nas duas rochas gigantescas. Ao perceber que haviam chegado ao ponto máximo de seu afastamento, virou-se com decisão para um dos marinheiros:
— Vamos, solte a pomba!
Uma pomba branca ergueu vôo das mãos do marinheiro e partiu como uma flecha em direção ao vão. As rochas, no entanto, parecendo adivinhar que algo pretendia franquear a sua passagem, começaram a unir-se rapidamente. A pomba acelerou ainda mais o vôo e conseguiu meter-se afinal no vão, no último instante, quase ao mesmo momento em que os penedos flutuantes trombavam violentamente um contra o outro. Um estrondo de formidável intensidade ecoou, espalhando-se por todo o mar; grandes vagas marinhas subiram ao céu numa explosão de água, descendo sob a forma de uma improvisada chuva. O mar inteiro se convulsionava, enquanto as rochas, lentamente, iam se separando outra vez. A pomba conseguira passar quase incólume, perdendo apenas uma ou duas penas da cauda.
— Adiante! Toda a força nos remos! — disse Jasão, com um grande grito Os homens estiraram os músculos, pondo toda a energia nos movimentos. As rochas rapidamente se separavam, enquanto o Argo avançava velozmente, quando subitamente o navio foi impelido para trás por uma grande onda.
Rodopiando, o Argo voltou quase ao ponto de partida.
— Vamos outra vez, ainda há tempo! — rugiu Jasão.
Empinando a proa, o Argo arremeteu novamente, com maior vigor ainda. As rochas começavam a fechar-se outra vez, enquanto o mar se agitava em torno delas, levantando um novo maremoto. Ganhando um novo c decidido impulso, o navio enfiou-se na já estreita fenda, comprimindo-se entre as duas paredes escarpadas.
Quando todos pensavam que já estavam livres, um baque tremendo sacudiu inteiramente a embarcação, lançando ao solo vários homens. As rochas haviam esmagado a popa.
Porém, afora isso, os rochedos haviam sido transpostos, e os argonautas podiam considerar-se felizes.
—  Vamos agora em busca do Velocino, companheiros! — disse Jasão. com um sorriso.


Imagem: Reprodução.
Texto: as 100 melhores histórias da mitologia grega.




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3 comentários:

Blog Woman Chic disse...

Joyce, ainda não conhecia o mito do Jasão. Adorei.
Beijos

Unknown disse...

Eu já assisti em filme essa lenda, muito legal.
BjoBjo;)
Celina Alves
Luxos e Luxos

Deyse Joyce disse...

Adoro mitologia e a lenda de Jasão é enorme e linda!!!

Vou postar tudinho aqui!

Bjins



@dejotablog