A Recaída - DJ Blog

A Recaída

Publicado em quarta-feira, 4 de janeiro de 2012




A proposta era simples.
Cláudia acompanharia João Carlos numa visita à casa dos seus pais, na cidadezinha onde nascera, e seria apresentada como sua namorada.
Alguém o tinha visto no Rio e chegara à cidadezinha com a notícia de que ele era gay.
Ele precisava provar que não era gay.― Mas você não tem uma namorada de verdade? ― perguntara Cláudia ― Por que eu?― Porque eu sou gay. Não tenho namorada. Tenho namorado. O nome dele é Roni. Não posso aparecer lá com o Roni.
― Mas ninguém liga pra isso, hoje em dia. Liga?
― Na minha cidade, na minha casa, ligam.Cláudia hesitara. Quase não conhecia João Carlos. A idéia de passar o Natal e o ano-novo com um quase desconhecido, na casa de uma família totalmente desconhecida, numa cidadezinha inimaginável, não a atraía.
Se bem que... Poderia ser divertido. O João Carlos não era antipático. E os dois se fingindo de namorados, enganando todo o mundo... Ela não tinha outros planos para o fim do ano. Nenhum desfile agendado. Seria divertido. Topou.
No aeroporto, antes de embarcarem, João Carlos se despediu de Roni com um beijo prolongado e disse para ele não se preocupar.
― Não vá me ter uma recaída... ― disse Roni, indicando Cláudia.
― Pode deixar ― disse João Carlos. ― Não há perigo.Os três riram muito.
Ao churrasco na casa dos pais de João Carlos, na primeira noite, veio gente de toda a região, parentes e amigos e até alguns que ninguém conhecia, para ver a namorada carioca.
A notícia de que Cláudia era, além de carioca, uma bela mulher, uma modelo, se espalhara rapidamente e todos queriam vê-la, e ouvi-la, e dizer "O Joãozinho, hein? Quem diria".
Os dois tinham dormido em quartos separado, João Carlos no seu quarto antigo,Cláudia com a irmã dele.
A mãe do João Carlos, que via novela e sabia que aquilo era comum, não se importaria se os dois dormissem juntos, mas "O seu pai, sabe como é..."
Eles sabiam como era. Não dormiam juntos, mas passavam o tempo todo se acariciando e se beijando, em casa e na rua. Provando para a cidade inteira que aquele boato de que o João Carlos tinha desandado no Rio era invenção, pura invenção.
Gostava de mulher. E, a julgar pela Cláudia,de grandes mulheres!
Cláudia e, em segundo plano, João Carlos foram as maiores atrações das festas de fim de ano na cidadezinha. Do concorrido Natal na casa dele e do réveillon no clube. E foi na noite de Ano Bom, depois de muito frisante no clube, depois de se abraçarem e se beijarem apaixonadamente à meia-noite para todos verem, que os dois chegaram em casa e não foram cada um para o um quarto, foram para o quarto do João Carlos, quem diria, onde se amaram durante toda a madrugada, tentando não fazer muito barulho. E de manhã, suas pernas ainda entrelaçadas com as de Cláudia, João Carlos lamentou o acontecido, e disse"Bem que o Roni me avisou...", e a Cláudia beijou a ponta do seu nariz e disse:― Pronto, pronto.
Voltaram para o Rio no dia 2, o João Carlos silencioso no ônibus e no avião, com cara de culpa, depois de pedir a Cláudia que em hipótese alguma comentasse a sua recaída para quem quer que fosse senão o Roni ia acabar sabendo, e a Cláudia silenciosa, com o secreto orgulho de ser tão desejável, tão mulher, que provocara a recaída fatal do João Carlos, depois de prometer que não contaria nada a ninguém, que aquilo ficaria entre os dois, só entre os dois, para sempre.
Ainda ontem a Cláudia encontrou o Roni e perguntou pelo João Carlos e o Roni disse: ― Quem?!― O João Carlos. Seu namorado.― Ah, é. Está bem. Muito bem.
Quer dizer. Olha aqui... Esse negócio de namorado...
― Você também mal conhecia o João Carlos. Não é? ― É. Eu...― Ele pediu para você fingir que era o namorado dele.― É ― O seu nome nem é Roni.― Não.
Cláudia sorriu. Pensando: se o João Carlos tivesse me pedido, honestamente, sem mentir, sem encenação, topa ou não topa, eu teria topado? Provavelmente não. Uma mulher como eu? Provavelmente não.
O falso Roni tinha chegado mais perto e estava dizendo:
― Olha, eu também não sou gay. E se quiser, posso provar.
Cláudia se afastou, ligeiro. Pensando: ó raça.

Luis Fernando Veríssimo.

2 comentários:

Evandro Pezzi disse...

ó raça!!!! Amei Deyse, e estou aqui sem saber se rio ou se... homens!!!

Beijinhos e uma ótima quarta-feira para vc ;)

nandapezzi.blogspot.com

Unknown disse...

rsrsrsr essa eu não conhecia, adorei.
BjoBjo;)
Celina Alves
Luxos e Luxos



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