Mitologia Grega: FRIXO E HELE - DJ Blog

Mitologia Grega: FRIXO E HELE

Publicado em sexta-feira, 9 de dezembro de 2011



Néfele, esposa do rei Atamas, foi repudiada pelo marido em favor de outra mulher. Ela, que até há pouco era senhora das vontades do rei, agora tinha de vê-lo sob a influência nefasta de Ino, filha de Cadmo, a nova e perversa rainha.
Antes da separação, o casal de reis havia tido um casal de filhos, Frixo e Hele. Ora, a nova esposa de Atamas não queria saber de herdeiros que não tivessem o seu sangue  razão suficiente para decidir pela morte de ambos.
Quero esses dois jovens mortos o mais breve possível" disse Ino a si mesma, ainda no leito de núpcias, enquanto o rei percorria o seu corpo com lábios ardentes.
Na manhã do dia seguinte, a nova rainha chamou à sua presença os dois jovens e lhes deu para comer todas as sementes que havia no reino.
— Vamos, comam tudo — disse Ino, que havia mergulhado as sementes no mel para agradar ao paladar dos garotos.
Ao cabo de algumas horas, com os dedos e as faces lambuzadas, ambos haviam dado conta da tarefa.
— Tem mais? — perguntaram os jovens.
— Oh, não, queridos, infelizmente se acabou... — respondeu satisfeita a rainha, pois não havia mais semente alguma no reino.
Em conseqüência, o reino todo foi assolado por uma terrível fome. Apavorado, o rei decidiu enviar um mensageiro ao famoso oráculo de Delfos, para saber o que deveria fazer. Mas Ino, quando o mensageiro passou diante do seu quarto, rumo a Delfos, puxou-o para dentro, com uma força surpreendente para seus delicados braços, e com uma voz sensual prometeu-lhe tudo, inclusive um saco de moedas de ouro, se ele fizesse o que ela mandava. Esses poderosos argumentos espantaram de vez o medo do servidor.
— Diga e eu o farei — capitulou o mensageiro.
— Quero que vá ao oráculo, como determina meu marido. Mas preste atenção: quando voltar, diga ao rei que a única solução para a fome é o sacrifício ritual de seus dois filhos.
— Entendi perfeitamente, adorável Ino! — disse o mensageiro, colando os lábios ao ombro alvo e perfeito da rainha, que o repeliu suavemente.
— Não seja atrevido! — disse a rainha, desvencilhando-se dos seus braços. Quer a recompensa antes de cumprida a tarefa?
O mensageiro engoliu em seco ao ver as costas nuas da rainha afastando-se resolutas. No mesmo dia partiu, decidido. Um mês depois, o lacaio apresentou-se diante do rei e repetiu as palavras que Ino lhe mandara dizer. O rei, profundamente abatido com a obrigação que os deuses lhe impunham, acabou cedendo e determinou que assim se fizesse. A rainha, ao saber da decisão, exultou. Depois, ordenai secretamente a um assassino que pusesse um fim à vida do mensageiro. Temendo, porém, que o assassino revelasse algo, ordenou a um segundo assassino que eliminasse o primeiro. Mas esse segundo matador tinha um ar pouco confiável, razão pela qual a própria Ino acabou por matá-lo com seu próprio punhal.
Néfele, a ex-rainha, já havia tomado conhecimento do perigo que filhos corriam. Por isso, recorreu ao auxílio do deus Apolo, pedindo que a ajudasse a salvar Frixo e Hele.
— Esteja tranqüila, Néfele — disse-lhe o deus. — Enviarei aos dois um de fuga.
Poucas horas antes de se cumprir o sacrifício, um grande carneiro dourado entrou voando pela janela do quarto onde os dois jovens aguardavam, aflitos o fim dos seus dias.
— Veja, Frixo! — disse Hele, espantada ao ver o animal.
— É um carneiro! E veja que pêlo magnífico! — disse o irmão, boquiaberto.
De fato, a pelagem do animal era toda tecida com fios de ouro. Parecia que o próprio sol havia adentrado o quarto de ambos.
— Nada temam, meus jovens — disse o carneiro do Velocino de Ouro. -Vim para levá-los para longe da ira de Ino — completou, oferecendo as suas douradas costas para que Frixo e Hele nelas montassem.
Antes de partir, o carneiro mandou que os dois jovens se segurassem bem e não olhassem para baixo. Num segundo, o animal lançou-se ao espaço, com sua preciosa carga. Cavalgando o ar, foi subindo rapidamente em direção ao azul do céu. Os cabelos de Hele, da mesma cor do pêlo do animal, esbatiam-se ao vento, enquanto Frixo fazia tudo para manter-se agarrado no carneiro, cego para tudo o mais.
— Veja, Frixo! — dizia a jovem, que não tinha olhos bastantes para admirar as estonteantes paisagens, que passavam num turbilhão aos seus pés.
De repente, o carneiro meteu-se no meio de um aglomerado de nuvens tempestuosas. Raios prateados esgrimiam ao redor dos três, como se eles estivessem em meio a um terrível duelo travado no espaço.
Atingido na cauda por uma faísca, o carneiro empinou suas patas dianteiras para cima, e isto foi o fim da infeliz Hele. Perdendo de vez o equilíbrio, as suas mãos agarraram o vento, enquanto as suas pernas desprendiam-se da sua condução. Frixo, no entanto, nada pôde fazer, pois continuava agarrado com todas as forças ao pêlo do animal, esquecido até da própria irmã.
— Frixo, estou caindo! — gritou ainda Hele, num último apelo.
Mas a sua voz ecoou no vazio, e o seu corpo caiu no estreito marítimo que separa a Europa da Ásia, afundando para sempre em suas águas profundas. O carneiro ainda passou por várias vezes rente à superfície agitada das águas, mas não pôde resgatá-la dali. O estreito passou a ser chamado de Helesponto, em homenagem à desditosa Hele.
Frixo, desesperado, acrescentou muitas lágrimas às salgadas e agitadas águas do mar. Depois que viu que seu pranto era inútil, retomou, sozinho, a viagem, montado sempre no carneiro de ouro, rumo à distante Cólquida.
— Estamos chegando — disse o carneiro, ao avistar as terras do novo país. Frixo, no entanto, não pôde alegrar-se como esperava, pois não tinha mais com quem compartilhar a sua felicidade. Depois de ser bem-recebido pelo rei do país, o jovem foi ao templo de Apolo, agradecer a ajuda que obtivera. Ali receber do deus a ordem para sacrificar, ele próprio, o carneiro de ouro.
Desse modo singular, teve o carneiro recompensados os seus serviços. Ou talvez recebesse a punição por haver deixado perecer na fuga a infeliz Hele. O fato é que após o sacrifício o pêlo dourado do carneiro foi arrancado cuidadosamente e colocado numa gruta, sob os cuidados de um terrível dragão. Ali esteve durante longos anos guardado, até que um dia o aventureiro Jasão se decidiu a ir buscá-lo, na companhia dos seus amigos argonautas, enfrentando a ira da terrível sentinela.
Mas esta é uma outra história.


Imagem: Reprodução.
Texto: as 100 melhores histórias da mitologia grega.

Nenhum comentário:



@dejotablog