Mitologia Grega: ZEUS E A GUERRA DOS TITÃS - DJ Blog

Mitologia Grega: ZEUS E A GUERRA DOS TITÃS

Publicado em terça-feira, 23 de fevereiro de 2010



Não há crônica, antiga ou moderna que refira de maneira exata todos os feitos e lances heróicos desta que foi a verdadeira primeira guerra mundial. Ela é demasiado antiga e perde-se na noite dos tempos. Só podemos nos basear no que dela referiram alguns comentadores tardios, como Hesíodo.
Ainda assim, ela houve: os sinais, por tudo, são demais evidentes.
A própria geologia comprova que as extintas divindades de outrora-personificações, talvez, dos elementos em estado caótico — se engalfinharam um dia numa luta impiedosa, revolvendo no embate o Céu, a Terra e os mares.
Esta gigantesca querela teve início com a pretensão de um filho rebelde, chamado Zeus, sobre o poder supremo que estava em mãos de uma divindade cruel e despótica, chamada Cronos.
Mas quem foi às partes deste espantoso embate?
De um lado, liderados por Cronos, estavam ele e seus irmãos, os poderosos Titãs ("filhos da Terra"). Do outro, Zeus, o filho insubmisso, e seus irmãos, além de algumas defecções titânicas que se alistaram a causa rebelde, tais como o Oceano e o filho de Japeto, Prometeu.
Os deuses da segunda geração, liderados por Zeus, foram organizar seu ataque no monte Olimpo (daí serem chamados de "deuses olímpicos"), enquanto os Titãs, abrigados no monte Ótris, tramavam a sua defesa.
Num dia incerto, que nenhum cálculo humano pode aproximar, deu-se o primeiro lance desta refrega colossal, que os anais bélicos da humanidade batizaram de Titanomaquia (ou "Guerra dos Titãs"). Uma imensa massa negra de nuvens destacou-se dos limites extremos do Olimpo e começou a marchar, num estrondo feroz de carros de guerra que rondam pelos céus. O empíreo escureceu de tal forma que o Caos parecia haver gerado de seu ventre uma segunda Noite, ainda mais negra e tétrica do que a primeira.
De dentro desta montanha alada, da cor do ferro, partiam raios tão ofuscantes (novidade horripilante inventada pelos Ciclopes, aliados de Zeus, que este libertara do Tártaro), que por alguns instantes brevíssimos não havia em todo o Universo a menor parcela de escuridão. Mas logo o negror da noite tombava outra vez sobre a Terra, e a alma de tudo quanto vivia agachava-se, oprimida por indizível pavor.
Ocultos acima dessa nuvem prodigiosa, Zeus e seus aliados caíram finalmente sobre seus inimigos. Os Titãs, contudo, bem protegidos em suas trincheiras, começaram a enterrar suas unhas duras e compridas como gigantescas pás de bronze até as profundezas do solo, para dali arrancarem pela raiz, com pavoroso estrondo, montanhas inteiras, que arremessavam em seguida contra os deuses olímpicos.
Uma voz espantosa ecoou, vinda do alto, sobrepondo-se à massa inteira de ruídos:
— Irmãos da nobre causa, desçamos até onde rastejam estes vermes! -disse Zeus e, junto com seus aliados, saltou das nuvens com as vestes guerreiras, dando grandes brados de fúria. Seus escudos refulgiam na queda como tremendos sóis prateados, enquanto suas lanças, brandidas com fúria, pareciam raios retilíneos que cada qual portasse com destemor infinito.
— Amantes da nobre verdade, recebamos estas aves de rapina que descem dos céus, tal como elas merecem! — bradou outra voz, desta vez de Cronos, encorajando os seus Titãs.
Quando os dois exércitos se misturaram, um ruído mais feroz do que qualquer outro jamais escutado fez-se ouvir, então, por todo o Universo. A terra inteira sacudia-se em tremores, levantando-se de dentro dela imensas labaredas de fogo e de pez. Poseidon com seu tridente aceso, fazia ferver os mares, e por toda parte não havia um único bosque que não tivesse sido varrido pelo assobio endemoniado de uma tórrida ventania.
Os combatentes misturados num pavoroso atraque corporal — atirando às cegas, uns contra os outros, cutiladas, raios, rochas imensas, vapores sufocantes e dentadas -, assim estiveram por uma eternidade, até que Zeus, temendo que a vitória estivesse pendendo para o inimigo, anunciou um novo propósito:
— Companheiros, libertemos do Tártaro profundo os poderosos Hecatônquiros!
Hecatônquiros. Esses terríveis seres haviam sido aprisionados por Cronos nas profundezas da terra e, uma vez libertos, espalhariam o terror entre as hostes inimigas.
Zeus, auxiliado pelos seus, desceu até as tênebras profundas e, após romper os grilhões que mantinham estas colossais criaturas presas ao abismo, subiu com elas à superfície. Uma fenda enorme rasgou-se sob o chão; imediatamente um vapor negro subiu da cratera num jato hediondo, até envolver o próprio Sol.
Tudo estava envolto numa treva sufocante, quando todos sentiram um baque formidável sacudir o solo. Um tufão poderoso surgiu em seguida, varrendo toda a fuligem espessa e deixando à mostra, sobre a superfície, os três Hecatônquiros, postados lado a lado. “A arte dos antigos não nos deixou nenhuma imagem do que seriam tais divindades, porém as descrições nos afirmam que se ratavam de seres “enormes como a mais alta das montanhas” e que possuíam cem braços e cinqüenta cabeças”.
Um urro colossal, partido das cento e cinqüenta bocas, atroou todo o Universo. As criaturas, empunhando rochedos imensos, lançaram sobre os apavorados Titãs trezentas montanhas, sepultando-os vivos sob os escombros. Em seguida os Ciclopes os acorrentaram com suas pesadas correntes, encerrando-os para sempre nas profundezas do Tártaro, de onde jamais tornariam a sair, vigiados pelos invencíveis Hecatônquiros.
Esta, em resumo, foi a primeira batalha que o Universo conheceu, e da qual saiu vitorioso Zeus, o novo soberano do Universo, para reinar como pai dos deuses sobre todos os homens e as demais divindades.


Imagem: Reprodução.
Texto: as 100 melhores histórias da mitologia grega.

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