Mitologia Grega: O NASCIMENTO DE BACO - DJ Blog

Mitologia Grega: O NASCIMENTO DE BACO

Publicado em quinta-feira, 22 de julho de 2010




A princesa Sêmele, filha de Cadmo e Harmonia estava deitada em seu leito. Estava só, mas ao seu lado ainda havia a marca profunda de um corpo — o corpo de um Deus. De fato, Zeus, o mais poderoso dos deuses, estivera até há pouco gozando dos prazeres que lhe proporcionara sua mortal amante.
— Béroe! — disse Sêmele, espreguiçando-se. Um raio cálido de sol que entrava pela janela de cortinas balouçantes acariciou seu ventre.
Alguns instantes de silêncio.
— Béroe, surda! — gritou Sêmele, apoiada aos cotovelos. Uma velha criada entrou apressada.
— Desculpe minha ama...
— Béroe, esta noite foi verdadeiramente divina... — disse a jovem, sorrindo. "Então é tudo verdade!", pensou Hera, pois era a esposa divina de Zeus quem estava ali, metamorfoseada na velha criada de Sêmele.
— Vamos, ajude-me a me vestir — disse a jovem, erguendo-se.
— Desculpe, ama, me intrometer em tais assuntos — disse Hera disfarçada -, mas está certa, verdadeiramente, de que este homem que priva de seu leito todas as noites seja mesmo Zeus, o Deus supremo?
— Que diz Béroe? — exclamou Sêmele, enrubescendo. — Um homem, ele? Sua tonta, nenhum mortal poderia amar uma mulher como este divino ser! Homem algum teria o seu toque misterioso, nem beijo algum teria a volúpia que ele, Zeus, põe em seus divinos lábios...
Sim, Hera sabia perfeitamente de tudo isso. "Mas as carícias que ele lhe dá nunca serão mais do que o mero produto de um instante, estando sempre conspurcadas pelo susto e pelo medo de um terrível castigo", pensava Hera, tentando vingar-se mentalmente da adversária. Entretanto, desconfiava em seu íntimo, mesmo sem dar-se conta claramente disto, de que justamente ali poderia estar uma parcela do encanto e das delícias que ela, esposa legítima, jamais poderia desfrutar.
— Mas existem tantos homens, bem, digamos... — disse a falsa Béroe, fingindo escolher o termo certo -... Tão hábeis,minha ama, que às vezes nós mulheres, frágeis e tolas que somos, deixamos nos enganar com humilhante facilidade...
— Não diga tolices, Béroe — disse Sêmele, entregando as vestes à velha e lhe dando as costas nuas. — Vamos, vista-me.
— Eu mesma, minha ama — prosseguiu Béroe, sem dar atenção às reprimendas -, quantas vezes fui ludibriada por homens que me pareceram deuses.
Você?! — exclamou Sêmele, com um riso escarninho. — Você, Béroe, amada por um Deus? Rá!
Sêmele, contorcendo-se de riso, impedia que a ama lhe cobrisse o corpo, e embora Hera soubesse que o deboche não fora feito a ela, ainda assim sentiu-se tomada pelo rancor — tal o poder que uma afronta, mesmo feita por engano, pode ter sobre a vaidade feminina. Enquanto escutava o riso, sem poder concluir sua tarefa, Hera percebeu nas costas da jovem as marcas inequívocas que o amor deixara em sua — sim, ela tinha de admitir — nudez perfeita. Hera tinha diante de si o mapa exato do país da traição: cada mancha arroxeada que Hera encontrava sobre aquela alva pele simbolizava uma província do prazer que Zeus, auxiliado pelos desvelos da amante, havia descoberto e marcado em seguida com a mesma ganância do explorador que descobre um lugar paradisíaco e instala com fúria o seu marco a fim de deixar bem clara a sua posse exclusiva.
Sêmele fez menção de virar-se, mas a falsa Béroe não lhe permitiu; temia ver em que outros lugares infames poderiam estar depositadas aquelas manchas.
— Vamos, minha ama, deixe-me vesti-la — disse a criada, introduzindo a veste pela cabeça, como quem ensaca algo que deseja ver logo ocultado.
— Calma, Béroe, não se zangue... — disse a jovem, ainda tomada pelo acesso de hilaridade.
— Peça-lhe uma prova... — disse Béroe, com voz insinuante.
— O quê?
— Peça a ele uma prova, cabal e definitiva, de que ele é mesmo quem afirma ser.
— Mas que prova melhor poderia Zeus me dar, além das que já tenho? -disse Sêmele, já vestida, abraçando-se com braços fingidamente alheios.
— Você sabe que os deuses usam uma forma humana apenas para se relacionar com os mortais — disse a Hera disfarçada. — Peça, então, que ele se mostre para você em todo o seu divino esplendor. Sêmele ficou alguns instantes pensativa, enquanto Béroe penteava, fio a fio, seus longos cabelos. — Está bem, lhe pedirei a tal prova! — disse a bela filha de Cadmo.
— Apenas não esqueça de uma coisa — disse a velha, com um sorriso pérfido no escondido rosto -, deve fazer antes com que ele jure pelo Estige que não lhe negará qualquer pedido.
— Por que pelo Estige? — quis saber a jovem.
— Por que este é um juramento fatal, ao qual os próprios deuses estão submetidos — disse Hera, em tom solene. — Todo aquele que jura pelo rio infernal deve cumprir rigorosamente com a sua palavra, e nem mesmo Hera tem poder para transgredi-la.
Dito isto, a falsa Béroe afastou-se, e Sêmele ficou entregue aos seus próprios pensamentos. Quando a noite chegou, Zeus reapareceu, como de costume.
-Zeus, meu amado! -disse a jovem, lançando-se a seus braços. — Desde que você começou a vir até mim, nos braços da noite, que eu nunca mais soube dizer, com certeza, quando é dia ou quando é noite.
— Por que estas palavras? — perguntou o Deus supremo.
— Porque me parece que a noite quando chega, trazendo-te consigo, me traz um dia ainda mais claro e brilhante do que aquele que está partindo, apenas isto.
Os dois amantes abraçaram-se, e após um longo beijo, Sêmele, tornando-se séria, tomou o rosto de Zeus em suas mãos.
— Meu querido, preciso que você me dê uma prova de seu amor.
— Prova de amor? — exclamou Zeus, surpreso. — Para quê?
— Não importa; apenas prometa. Prometa pelo Estige que me dará tal prova. Só assim poderei ter sossego em minha alma e confiar plenamente em você.
Zeus relutou durante um longo tempo. Jurar pelo Estige — o mais irrevogável dos juramentos -, e tudo apenas por um capricho feminino!
— Está bem, eu prometo — disse Zeus, afinal.
— Vamos, pelo Estige... — disse Sêmele. — Diga, por favor...
Zeus acedeu, contrariado, e fez o juramento. Sêmele, aliviada, foi até o fundo do quarto e parou, com um ar misterioso estampado no rosto.
— Quero agora uma prova definitiva de que você é mesmo o Zeus que tanto amo — disse ela, com o ar subitamente decidido.
— Do que está falando, criatura?
— Mostre-se agora, diante de mim, tal qual é! Zeus ficou paralisado.
Não, aquilo não podia ser verdade. Ela devia estar brincando, ou então louca. Claro, só uma louca lhe pediria uma coisa destas. E ele sabia perfeitamente que não poderia fazer isto sem destruí-la.
Zeus chegou a abrir a boca para lhe explicar o motivo, mas subitamente deu-se conta de que o destino da pobre moça já estava selado, pois ele havia feito o juramento fatal. Nada poderia fazer com que ele voltasse atrás — mesmo que ela mudasse de opinião ou tentasse anular sua vontade anterior.
Finalmente verei o que mortal algum antes viu", pensou a jovem, extasiada.
Zeus, pesaroso, afastou-se um pouco, embora soubesse que era um ato inútil. Depois, concentrou-se e fez com que suas formas humanas fossem lentamente se apagando. Ao mesmo tempo uma luz, a princípio muito tênue, foi brotando do seu corpo, em dourados feixes, como se um segundo sol estivesse a nascer dentro dele.
Sêmele deu-se conta, subitamente, do que estava para acontecer, quando viu a vaporosa cortina atrás do Deus desaparecer como num sopro, e uma nuvenzinha de fagulhas ser expulsa pela janela, impelida pelo vento.
— Não, Zeus... Não! — gritou a pobre jovem, mas já era tarde demais. Uma bola de chamas irrompeu de dentro da forma humana do pai dos deuses e se expandiu por todo o quarto; relâmpagos espalhavam-se em todas as direções e um fragor intenso de chamas devorando tudo abatia-se sobre a jovem infeliz.
— A maldita Béroe! — gritava Sêmele, ajoelhada, com a cabeça oculta e os ouvidos tapados. — Béroe e a minha maldita desconfiança foram a minha perdição!
Caiu no chão o corpo chamuscado e já sem vida de Sêmele. Dentro dela, porém, sem que ela tivesse sequer sabido, ainda pulsava outra vida.
Zeus, dando-se conta disso, retirou do ventre da amante morta o produto divino dos seus amores: um bebê, muito jovem ainda, mas que respirava. Sim, ele respirava! Zeus, antes que o palácio inteiro ardesse, retomou sua forma humana e, fazendo um talho na própria perna, introduziu o pequeno e delicado ser dentro de sua própria coxa.
Não poderia encontrar um refúgio mais seguro", pensou Zeus, que já era capaz de se alegrar outra vez, com a descoberta daquele agradável consolo.
— Afinal, para alguém que já gestou um ser em sua própria cabeça, gestar outro em sua coxa não será coisa tão penosa... — disse o Deus supremo, indo embora.
E foi assim que dali a algum tempo veio ao mundo Baco, o único Deus cujos pais não eram ambos divinos, sendo filho de uma divindade com uma bela, mas infeliz mortal.


Imagem: Reprodução.
Texto: as 100 melhores histórias da mitologia grega.


CONTINUA...

3 comentários:

Nathy disse...

Tô esperando a continuação!! Bjs!

Amanda Luna disse...

ai ai só vc mesmo..rss achei um barato vc falando do MSL!!!
quanto ao post: Que legal esta história, de onde vc pesquisa todas estas histórias de mitologia? são ótimas, não tem como não ler... quando estava no colégio as aulas de mitologia grega eram as que eu mais gostava!!
Beijão
sermulhereomaximo.blogspot.com

Tatty disse...

Deyse,

Tem selinho pra vc no Suspiro!!!
Bjsss, Tatty

http://suspirofashion.blogspot.com/



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